Ninguém podia aprender o cântico, a não ser
os cento e quarenta e quatro mil que haviam sido comprados da terra.
Apocalipse
14.3
Alguns cânticos só podem ser assimilados no
vale da dor. Nenhuma arte, por mais desenvolvida que seja, é capaz de
ensiná-los; nenhum exercício vocal, nenhuma fonoaudiologia avançada pode nos
fazer cantá-los perfeitamente. Sim, sua musicalidade vem da alma, brota do
coração. São cânticos registrados na memória que a lembrança nos traz, vem da
experiência pessoal. Cada nota, cada acorde é ditado e gravado na sombra do
passado; sobem até as alturas nas asas das emoções e dos sentimentos do que
passamos ontem.
O apóstolo João diz que, mesmo na esfera
celeste, haverá um cântico que só poderá ser entoado pelos filhos da terra –
sim, o cântico da redenção. É sem dúvida um cântico de triunfo, de vitória, louvor,
gratidão a Cristo, que nos libertou e salvou – mas a consciência do triunfo só
virá através das amargas lembranças das cadeias passadas.
Anjos ou arcanjos por mais experimentados e
capacitados que sejam, não poderão entoá-lo tão docemente como nós – para interpretá-lo
com perfeição, eles teriam que passar pelo nosso exílio e tribulação, e isto é
impossível a eles – ninguém pode aprendê-lo a não ser os redimidos da Cruz.
E é só por isso que estamos todos inscritos
no Conservatório do Pai – praticando, treinando nossa
musicalidade, ensaiando acordes, notas graves e tons agudos para cantar na
sinfonia, no coro celestial. A escola é a própria vida, o sofrimento, a dor, as
lutas e tribulações – muitos pensam que Ele permite os sofrimentos para
provar-nos; não, as dores são lições de aprimoramento, estamos exercitando,
preparando-nos para o coral divino.
As intermináveis noites de angústia e
aflição preparam a nossa musicalidade, o nosso cântico – no vale, Ele está
afinando a nossa voz – no calor da fornalha, Ele dá maior sonoridade aos
acordes que devemos alcançar – no frio intenso da solidão do leito de dor, Ele
molda nossa expressão - na brisa mansa e fresca da manhã, Ele suaviza a melodia...
Em momento algum podemos desprezar o conservatório da dor, ele nos afina; e
a cada brusca transição da longínqua esperança
para o temor repentino, Ele nos concede mais uma nota, um acorde, um tom,
aperfeiçoando a nossa sonoridade.
"Tudo isso é para o bem de vocês, para
que a graça, que está alcançando um número cada vez maior de pessoas, faça que
transbordem as ações de graças para a glória de Deus.
Por isso não desanimamos. Embora
exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados
dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo
para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles" (2 Coríntios
4.15-17).
"Ouvi um som do céu como o de muitas
águas e de um forte trovão. Era como o de harpistas tocando suas harpas. Eles
cantavam um cântico novo diante do trono, dos quatro seres viventes e dos
anciãos" (Apocalipse 14.2,3).
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