sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Conservatório divino


Ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e quarenta e quatro mil que haviam sido comprados da terra.

                                   Apocalipse 14.3

Alguns cânticos só podem ser assimilados no vale da dor. Nenhuma arte, por mais desenvolvida que seja, é capaz de ensiná-los; nenhum exercício vocal, nenhuma fonoaudiologia avançada pode nos fazer cantá-los perfeitamente. Sim, sua musicalidade vem da alma, brota do coração. São cânticos registrados na memória que a lembrança nos traz, vem da experiência pessoal. Cada nota, cada acorde é ditado e gravado na sombra do passado; sobem até as alturas nas asas das emoções e dos sentimentos do que passamos ontem.
O apóstolo João diz que, mesmo na esfera celeste, haverá um cântico que só poderá ser entoado pelos filhos da terra – sim, o cântico da redenção. É sem dúvida um cântico de triunfo, de vitória, louvor, gratidão a Cristo, que nos libertou e salvou – mas a consciência do triunfo só virá através das amargas lembranças das cadeias passadas.
Anjos ou arcanjos por mais experimentados e capacitados que sejam, não poderão entoá-lo tão docemente como nós – para interpretá-lo com perfeição, eles teriam que passar pelo nosso exílio e tribulação, e isto é impossível a eles – ninguém pode aprendê-lo a não ser os redimidos da Cruz.
E é só por isso que estamos todos inscritos no Conservatório do Pai – praticando, treinando nossa musicalidade, ensaiando acordes, notas graves e tons agudos para cantar na sinfonia, no coro celestial. A escola é a própria vida, o sofrimento, a dor, as lutas e tribulações – muitos pensam que Ele permite os sofrimentos para provar-nos; não, as dores são lições de aprimoramento, estamos exercitando, preparando-nos para o coral divino.
As intermináveis noites de angústia e aflição preparam a nossa musicalidade, o nosso cântico – no vale, Ele está afinando a nossa voz – no calor da fornalha, Ele dá maior sonoridade aos acordes que devemos alcançar – no frio intenso da solidão do leito de dor, Ele molda nossa expressão - na brisa mansa e fresca da manhã, Ele suaviza a melodia... Em momento algum podemos desprezar o conservatório da dor, ele nos afina; e a cada brusca transição da longínqua esperança para o temor repentino, Ele nos concede mais uma nota, um acorde, um tom, aperfeiçoando a nossa sonoridade.
"Tudo isso é para o bem de vocês, para que a graça, que está alcançando um número cada vez maior de pessoas, faça que transbordem as ações de graças para a glória de Deus.
Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles" (2 Coríntios 4.15-17).
"Ouvi um som do céu como o de muitas águas e de um forte trovão. Era como o de harpistas tocando suas harpas. Eles cantavam um cântico novo diante do trono, dos quatro seres viventes e dos anciãos" (Apocalipse 14.2,3). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário