O acontecimento anual era um ritual que
sempre atraia a multidão. O sumo sacerdote subia solenemente os degraus d
templo e levava nos braços um cordeiro, o sacrifício. Enquanto o povo esperava
ansioso do lado de fora, passava pela grande e espessa cortina e adentrava o
Santo dos Santos. Matava o cordeiro sobre o altar e orava para que o sangue
apaziguasse a Deus. Os pecados eram removidos e o povo suspirava aliviado, por
mais um ano.
A pesada cortina permanecia como um
lembrete, delimitando a distancia entre Deus e o homem. Era como um abismo
profundo que ninguém podia transpor. O homem em sua ilha...de quarentena, fora
despejado de seu condomínio de luxo, “o Paraíso”, por conta do pecado da
desobediência.
Deus poderia tê-lo deixado assim, poderia
deixar a humanidade entregue a própria sorte até que o último sucumbisse,
poderia isolá-los de sua Santa e Doce Presença. Poderia ter virado as costas,
jogado a toalha e recomeçado em outro planeta com seres mais dóceis, Ele bem
poderia, nós sabemos. Mas sabemos também que não suportaríamos a sua ausência,
não há vida sem Ele, Davi com muita propriedade afirma:
“A
ti eu clamo, Senhor, minha Rocha; não fiques indiferente para comigo. Se
permaneceres calado, serei como os que descem à cova” (Salmos 28.1).
Mas
Ele não o fez, em sua indignação deu lugar à misericórdia. O próprio Deus transpôs
o abismo. Na escuridão de um sol eclipsado, Ele e um Cordeiro estiveram no
Santo dos Santos. Deitou o Cordeiro sobre o altar ( o que era mais Santo ali, o
Altar que purificava a Oferta, ou a Oferta que purificou o Altar??) que momento
singular este... Não era o cordeiro de um sacerdote, de um judeu, ou de um
pastor que teria separado de seu rebanho, mas o “Cordeiro de Deus”. Os anjos
silenciaram quando o sangue do sacrifício suficiente começou a cair no altar de
ouro. Onde gotejava o sangue dos cordeiros, agora gotejava o Sangue Precioso da
Vida. E então Deus voltou-se e olhou pela última vez a cortina e resolveu rompê-la
num ato de indignação pelo alto custo que o pecado causou em seu coração.
Não
mais cordeiros, não mais sangue de animais sacrificados...não mais cortina de
separação...não mais sacrifícios ineficientes e ineficazes...
E
neste ato nos devolve a dignidade de podermos usufruir de Sua Presença e
voltarmos um dia definitivamente para o nosso lar.
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