Levanto os meus olhos para os montes e
pergunto: De onde me vem o socorro?
Salmos
121.1
Os nossos Golias possuem revólveres
poderosos, são “magnuns” feitos sob encomenda, de longo alcance e mira certeira
para o coração. Eles não cospem balas, mas tristezas, derrotas, destruições,
angústias, desilusões... Não levam vidas, mas sorrisos, alegrias, paz, noites
de sono; não provoca feridas na carne, mas feridas na alma, mina nossa fé,
enfraquece nossa disposição para orar ou buscar a Deus.
Será que já fomos alvejados alguma vez?
Se algo nos impede de acertar o passo, é
bem possível que já fomos atingidos. Se parece que não conseguiremos superar os
preliminares da etapa inicial de algo... Ou se mesmo, o sair da cama se torna
difícil... Certamente já nos acertaram.
Como caranguejo damos um passo para frente e dois para trás.
Relacionamentos amargos, inacabados,
rancores, revoltas... O céu escurece fica revolto e anuncia longas noites
solitárias, frias e tristes que afrontam o novo dia do nascer do sol.
Sucumbimos com o peso da dor
intransponível, desmoronamos e não há quem nos ajude, já usamos nossos últimos
recursos, já se foi nossa última cartada.
Davi sente-se assim. Saul vem levando a
melhor sobre Davi, deixando-o dormir em cavernas, espreitando atrás de árvores.
Seiscentos soldados dependem de Davi como líder e provedor. Esses homens têm
esposas e filhos. Só Davi tem duas esposas, o suficiente para garantir tensão
em sua tenda.
Ele está fugindo de um rei desvairado;
escondendo-se em montanhas, esgueirando os precipícios e abismos; liderando um
bando desordenado de soldados; alimentando com dificuldades, mais de mil bocas.
O revólver destrutivo do mal encontra seu
alvo. Veja o que Davi diz: "Algum dia serei morto por Saul. É melhor fugir
para a terra dos filisteus. Assim Saul desistirá de procurar-me por todo o
Israel e escaparei dele" (1 Samuel 27.1).
Sem Deus e Sem esperança, Davi concentra-se
em Saul. Ele pendura o pôster de Saul na parede e ouve repetidamente suas mensagens
de voz. Davi nutre seu medo até que este o domina: "Serei morto"!
Ele sempre teve equilíbrio e sensatez. Em
dias melhores e em outros momentos não tão bons assim, Davi era exemplo da
terapia do céu para dias complicados. A primeira vez em que enfrentou os filisteus
no deserto, "ele questionou ao SENHOR" (23.2). Quando se sentiu
pequeno diante de seu inimigo, "Davi consultou ao SENHOR" (23.4).
Quando foi atacado pelos amalequitas, "ele perguntou ao SENHOR"
(30.8). Confuso acerca do que fazer depois da morte de Saul, "Davi
perguntou ao SENHOR" (2 Samuel 2.1). Quando coroado rei e perseguido pelos
filisteus, "Davi perguntou ao SENHOR" (5.19). Davi derrotou-os, mas
eles armaram outro ataque, então "Davi consultou o SENHOR" (5.23).
Davi tinha o número do telefone de Deus adicionado ao seu, para discagem
rápida.
Confuso? Davi falou com Deus. Desafiado?
Ele conversou com Deus. Com medo? Ele buscou a Deus... Na maior parte do tempo,
mas não dessa vez. Nessa ocasião, Davi argumentou consigo mesmo, ele nem busca
a orientação de seus conselheiros. A primeira vez que Saul atacou, Davi
recorreu a Samuel. Como os ataques persistiram, ele pediu conselhos a Jônatas.
Quando se viu sem armas e sem pão, ele procurou refúgio entre os sacerdotes de
Nobe. Dessa vez, no entanto, Davi consulta a si próprio, segue seus próprios impulsos.
Pobre escolha! Veja o conselho que ele dá
para si mesmo: "Algum dia serei morto por Saul" (1 Samuel 27.1).
Não, você não será ainda não, Davi. Você se
esqueceu do azeite dourado de Samuel em seu rosto? Deus ungiu-o. Você se
esqueceu da promessa de Deus por meio de Jônatas? "Você será rei de Israel"
(23.17). Você não se lembra da promessa que Deus lhe fez por meio de Abigail?
"Quando o SENHOR tiver feito a meu senhor todo o bem que prometeu e te
tiver nomeado líder sobre Israel..." (25.30). Deus até garantiu sua
segurança por meio de Saul. "Tenho certeza de que você será rei"
(24.20).
Mas, em meio ao estresse do momento, Davi
pressiona a tecla "pausa" de seus pensamentos bons e em seus
devaneios pensa:
Algum dia serei morto por Saul. É melhor
fugir para a terra dos filisteus. Saul desistirá de procurar-me por todo o
Israel e escaparei dele (27.1).
Assim Davi parte para as mãos do inimigo, e
Saul suspende a caça. Ele leva seus homens para a terra dos ídolos e falsos
deuses e levanta sua tenda no quintal de Golias. Ele nem percebe e cai em cheio
no pasto do próprio Satanás.
A princípio, isso lhe trás alívio, Saul lhe
dá uma trégua, desiste da perseguição. Os seus homens podem dormir com os dois
olhos fechados, as crianças podem ir para o colégio e as esposas podem desfazer
as malas. Esconder-se com o inimigo traz um falso alívio temporário. Se não posso
vencê-los, devo me unir a eles?
Seria esta a saída mais plausível? Nem
sempre.
Cortejemos as bebidas alcoólicas e riremos
triunfantes e seguros — por um tempo.
Troquemos de cônjuge e relaxaremos animados
— por um tempo.
Entreguemos e nos deleitemos com a
pornografia e nos entreteremos — por um tempo.
Mas depois que a tentação crava suas
garras, as ondas da culpa arrebentam nossa fortaleza; a solidão do rompimento e
do abandono nos atropela e nos sentimos desesperadamente sós.
"Enquanto escondi os meus pecados, o
meu corpo definhava de tanto gemer. Pois de dia e de noite a tua mão pesava
sobre mim; minha força foi se esgotando como em tempo de seca" (Salmos
32.3,4).
Esconder-se com o inimigo traz um fugaz
alívio temporário.
"Há caminho que parece certo ao homem,
mas no final conduz à morte. Mesmo no riso o coração pode sofrer, e a alegria
pode terminar em tristeza" (Provérbios 14.12,13).
Aquele "amém" que acabamos de
ouvir veio de Davi lá do alto onde se encontra, só Ele pode nos dizer. Vejamos
em suas narrativas como reagiu para sobreviver no campo do inimigo, Davi em seu
jogo de cintura teve que vender-se.
Ele fez acordo com Aquis, rei de Gate:
"Dá-me um lugar numa das cidades desta terra onde eu possa viver. Por que
este teu servo viveria contigo na cidade real?" (1 Samuel 27.5,).
Observe o título que Davi dá para si mesmo:
o "servo" do rei inimigo. O filho antes orgulhoso de Israel e
conquistador de Golias levanta agora um brinde ao inimigo de sua família, e se
prostra ali na condição de serviçal.
Aquis aceita o acordo. Ele dá para Davi uma
aldeia, Ziclague, e pede apenas que Davi se volte contra seu próprio povo e o
extermine. Até onde Aquis sabe, Davi faz isso. Mas Davi, na verdade, assalta os
inimigos dos hebreus:
Ele e seus soldados atacavam os gesuritas,
os gersitas e os amalequitas... Quando Davi atacava a região, não poupava
homens nem mulheres, e tomava ovelhas, bois, jumentos, camelos e roupas. Depois
retornava a Aquis (27.8,9).
Certamente essa não é a melhor hora de
Davi, nem a sua melhor versão. Ele mente para o rei filisteu e encobre sua
fraude derramando sangue. Continua mentindo por dezesseis longos meses. Não
existem salmos dessa época. Sua harpa silenciou-se. O revés silencia o
menestrel.
As coisas pioram muito antes de melhorarem,
foi um período de intensa ausência de luz em seus tortuosos caminhos.
Os filisteus decidem atacar o rei Saul.
Davi e seus homens optam por trocar de lado e se juntam à oposição. Eles viajam
três dias para chegar ao campo de batalha, são rejeitados e viajam três dias de
volta para casa.
"Os comandantes filisteus iraram-se
contra ele e disseram: '... Ele não deve ir para a guerra conosco, senão se
tornará nosso adversário durante o combate'" (29.4).
Davi conduz seus homens indesejados de
volta para Ziclague e acaba por encontrar a aldeia toda incendiada. Os
amalequitas destruíram-na, levaram seus bens e sequestraram todas as esposas,
filhos e filhas. Quando Davi e seus homens veem a devastação, eles choram até
"não terem mais forças" (30.4).
Rejeitados pelos filisteus. Saqueados pelos
amalequitas. Sem terra pela qual lutar. Sem família para recebê-los na volta
para casa. Será que as coisas podem piorar? Podem. Ódio brilha nos olhos dos
soldados. Os homens de Davi começam a olhar para as pedras. "Os homens
falavam em apedrejá-lo; todos estavam amargurados" (30.6).
Temos de perguntar para nós mesmos: Davi se
arrependeu de sua decisão? Desejando dias mais simples no deserto? Os bons e
velhos tempos na caverna?
O modo como lidamos com nossos momentos
difíceis reflete por um bom tempo.
Agora, nas ruínas de Ziclague com homens
escolhendo pedras para apedrejá-lo, ele arrepende-se da escolha de sair e de se
vender, opção que ele fez sem orar.
Os tempos de dificuldades é a incubadora
para as escolhas e as mudanças erradas, é o local de teste para as más
decisões, é a linha de montagem dos atos impensados, que nos trás tardios arrependimentos
e fatais desolações.
Como lidamos com os nossos maus momentos?
Quando a esperança vai embora de vez, sem data de volta, e a alegria não é nada
senão o nome da menina da casa ao lado... Quando nos cansamos de tentar, de
perdoar, exauridos pelos meses e semanas difíceis ou de gente de difícil
convívio... Como lidamos com os dias negros?
Com um frasco de remédio ou uma garrafa de
uísque? Com uma hora no bar, um dia no spa ou uma semana de férias para
respirar no litoral? Muitos optam por tais tratamentos. Alguns desses tratamentos,
na verdade, revigoram a vida triste. Mas será? Ninguém nega que ajudam por um
tempo, mas e a longo prazo? Eles atenuam a dor, mas será que a removem?
Ou somos como as ovelhas que pularam de um
penhasco qualquer porque seguiu a primeira, cada uma pulando do mesmo lugar,
sem saber ao certo por que a primeira pulou?
Nós, como ovelhas, seguimos uns aos outros
à beira do penhasco, mergulhando de cabeça em bares, farras e camas. Como Davi,
acabamos em Gate e descobrimos que Gate não tem nenhuma solução, não é o nosso
lugar.
Mas, existe uma solução? Na verdade,
existe. Fazer certo aquilo que Davi fez errado.
Ele não orou. Façamos o contrário, sejamos
rápidos para orar. Paremos de conversar conosco mesmo. Conversemos com Cristo,
que convida: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados,
e eu lhes darei descanso" (Mateus 11.28). Só Nele podemos descansar
seguros, Ele é o nosso alto refúgio!
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