O que eu lhes digo na escuridão, falem à
luz do dia; o que é sussurrado em seus ouvidos, proclamem dos telhados.
Mateus 10.27
Há época em nossa vida que o SENHOR nos
conduz e nos reserva um canto escuro, a fim de nos fazer revelações... É o
escuro do lar ensombreado pela dor da perda ou da enfermidade, o escuro da vida
solitária e desolada, onde o luto cerrou as cortinas e o riso se estancou, onde
a enfermidade leva a alegria e o ânimo, ofusca a luz e nos enfraquece a
disposição para lutar e viver, o escuro de uma traição que rouba nosso teto e
nosso chão, nos apunhala pela costas e traz consigo de contrapeso o desalento, o reverso, desapontamento, tristeza esmagadora e opressiva.
Então enquanto ruminamos e tentamos
administrar e organizar a dor intensa, o SENHOR nos convida a estar a sós com
Ele, nos revela Seus segredos, grandes, profundos, estupendos, eternos e infinitos;
os olhos habitualmente ofuscados pelo falso brilho das vitrines mundanas, Ele
leva a contemplar as constelações celestes, e dá aos ouvidos sensibilidade para
perceber e distinguir os meios-tons suaves da Sua voz, muitas vezes sufocada
pelo tumulto do vozerio e dos gritos terrestre.
Mas certamente, como toda revelação, traz
consigo uma responsabilidade: “dizei-o às claras... pregai-o”...
Quando Deus nos abençoa com uma revelação,
não é porque somos melhores que outros, pelo contrário:
"Deus escolheu as coisas loucas do
mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para
envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as
desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são”,
(1 Coríntios 1.27,28).
Perante Deus não há alguém que realmente
seja algo, só Ele é, e quando decide derramar sobre nós suas grandes bênçãos,
convém que partilhemos com os irmãos menos favorecidos, assim como os cristãos
fizeram na ocasião da pesca maravilhosa, tais revelações sempre implicam,
envolvem uma responsabilidade, se vamos enterrar ou fazer render tais dádivas e
talentos em nós investidos.
Não podemos ficar para sempre ruminando a
dor, chorando as perdas, nos lastimando com pena de nós mesmos, fechados no
quarto escuro meditando sobre o passado ocorrido... Há um momento em que
precisamos virar a página, mudar o foco, somos conclamados a tomar o nosso
lugar na marcha e no tumulto da vida, aprendemos muito com as aves que voam em
bando no céu:
Os pássaros grandes, como gansos
e cisnes voam no céu, geralmente numa formação em V, percebemos
que a ave que vai na frente bate as asas muito mais intensamente do que as
que vêm atrás; desta forma, elas poupam energia, se esforçam menos, porque se beneficiam do deslocamento de ar causado pelas outras aves. O
líder não é sempre o mesmo, para manter a justiça no grupo, as aves se revezam
na liderança, e as que se cansam se deslocam para trás, e outro pássaro
descansado toma o seu lugar, assim mantém o ritmo constante no voo do bando.
Da mesma forma que nós, quando chegada a
nossa hora, devemos tomar nossa posição , dizer e proclamar o que aprendemos, o
que ouvimos, o que Deus fez por nós. E isto dá um novo sentido, novo significado ao
sofrimento, porque na maioria das vezes, o fator mais pesado e triste das
adversidades que enfrentamos é nos sentirmos incapazes, inválidos,
desqualificados, improdutivos, descartados, inúteis, solitários e abandonados... É comum
desperdiçarmos horas a fio, o nardo precioso de nossas almas em tristes
lamentações e vãs conjecturas infundadas.
Mas todos os nossos dias estão diante de
Deus, em tudo tem Ele o Seu propósito, se chama à parte um filho, para uma missão
ou comunhão numa esfera mais elevada, a fim de que possa ouvir Dele, face a
face e levar e proclamar a mensagem para os seus irmãos que estão ao pé do
monte, como fez com Moisés. Foram perdidos os quarenta dias que Moisés passou
no alto do Monte, ou foi desperdício o tempo que Elias passou em Horebe, ou o
tempo que José passou no Egito, ou os anos que Paulo passou na Arábia? Quem somos
nós para questionar, ainda que para nós sejam incompreensíveis, os planos Daquele
que é SENHOR sobre todos e sobre tudo?
Na vida de fé não há atalho, e a fé é a
condição vital para uma vida santa e vitoriosa, não outra maneira, sem ela é
impossível agradar a Deus. Nós precisamos de períodos de comunhão e meditação a
sós com Ele, é fundamental subirmos ao monte da oração em intimidade e comunhão,
chegarmos ao vale de repouso em tranquilo resguardo à sombra de uma grande
rocha ou debaixo de um zimbro ou reclinando nossa cabeça sobre uma pedra de
travesseiro, e que tenhamos noites em contemplação sob o luar e as estrelas –
em que a escuridade tire de cena o mundo físico e finito, silencia o burburinho
da roda viva humana e descortine a visão para o infinito e eterno – sim, e isto
nos é indispensável tanto quanto o alimento e a água para o nosso corpo; mesmo
quando não entendemos e que para chegarmos a entender precisamos sofrer algo
trágico, que nos desestrutura e desestabiliza, desacelerando nosso ritmo frenético
pela força da circunstancia ao nosso ver.
Só desta forma a consciência da presença de
Deus torna-se tão real que deixa marcas indeléveis em nós, capacitando-nos a
dizer repetidamente como o salmista:
"O Senhor está perto de todos os que o
invocam, de todos os que o invocam com sinceridade" (Salmos 145.18).
"Tu, porém, Senhor, estás perto e
todos os teus mandamentos são verdadeiros" (Salmos 119.151).
Há corações que se comparam a determinadas
e excêntricas flores, de rara beleza, desabrocham-se nas sombras da vida.
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