quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O cálice do Pai


 Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu?

                                   João 18.11

Esta é a constatação e a declaração mais difícil de se dizer e fazer, bem mais complicado do que acalmar as tempestades, ressuscitar mortos, curar enfermos, multiplicar os pães, dar vistas a cegos...
Os simpatizantes, profetas, discípulos e apóstolos presenciaram, compartilharam e testemunharam milagres extraordinários, mas fazer a vontade de Deus e sujeitar-se a ela é bem mais profundo, exige uma envergadura bem mais aquilatada; trata-se da mais elevada expressão da fé, a mais sublime graduação da conquista cristã.
É despir-se e despojar-se totalmente do seu “eu”, ver destruídas para sempre os sonhos, anseios, as “brilhantes aspirações” de uma vida comum, suportar o fardo diário sempre contrário ao temperamento carnal, sem probabilidade de alívio atenuante, ser oprimido pela pobreza e saber administrá-la, mesmo quando se deseja apenas o suficiente para o bem-estar e conforto básico dos entes queridos; ser agrilhoado por uma incapacidade física incurável, difícil de carregar; sofrer a perda dos entes queridos, até ficar completamente só para enfrentar os embates da vida; e a despeito de toda a escola de disciplina, ser capaz de afirmar:
“Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?” – Certamente isto é fé genuína e robustez espiritual, em seu estado mais elevado. Uma fé expressiva se revela não tanto pela capacidade de realizar, de fazer, mas sim de sofrer, é sacrificial sua demonstração autentica.
Para que tivéssemos um Deus que Se compadece, foi necessário um Salvador que sofresse! E só há verdadeiro sentimento de compaixão para o sofredor, em um coração que também foi ferido, que percorreu esse mesmo caminho, e sabe avaliar os percalços dessa jornada; do contrário são apenas vãs e frias conjecturas e avaliações superficiais que jamais traduzirão a realidade.
Não podemos fazer bem aos outros sem que isto nos onere de alguma forma, há um custo a ser pago e nossas aflições são o preço que pagamos pela capacidade de termos compaixão. Quem quer ajudar precisa sofrer primeiro, para andar a segunda milha, é necessário percorrer a primeira milha, não podemos queimar etapa, tudo é gradativo, ninguém nasce pronto, não iniciamos pelo fim.
Quem quiser salvar precisa primeiro ter experimentado a cruz de alguma forma; e só estando com Ele em seus sofrimentos, provando do cálice que Ele também bebeu, submetendo-nos ao Seu batismo; é que podemos também compartilhar a gratificação de socorrer e ser útil ao próximo de alguma maneira.
Os mais profundos e consoladores salmos de Davi foram escritos debaixo da pressão da angústia, perseguição e sofrimento; se Paulo não tivesse experimentado tantas lutas e o espinho na carne, teríamos sido privados de toda aquela compaixão e riqueza de conteúdo e reais detalhes que perpassam suas cartas.
As circunstancias atuais que enfrentamos, que nos constrangem, oprimem, desestabilizam; se estamos entregues, se nos rendemos a Cristo; são instrumentos, as ferramentas mais adequadas na mão do Pai, fiel Oleiro, para acrisolar-nos, moldar-nos, preparando-nos para a eternidade com Ele; confiemos apenas... não abandonemos o instrumento, não lavemos as redes ainda, não desmaiemos ou desanimemos, do contrário nos privaremos da conclusão de Sua obra em nós, Aquele que a iniciou é mais que capacitado para concluí-la.
Pela escola do sofrimento graduam-se poucos doutores, raros mestres se sobressaem, não há ícones expressivos; não há chance para boa aparência ou formosura, só há escassos sobreviventes...

"Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles" (2 Coríntios 4.16,17).

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