Levando a sua própria cruz, ele saiu...
João 19.17
Uma antiga narrativa descreve uma mulher
exausta e insatisfeita com a própria sorte, conta-se que ela vivia cansada e
infeliz, reclamando, lastimando, murmurando pelos cantos, dizendo-se injustiçada,
julgava carregar uma cruz mais pesada e sacrificante que os demais. Seu maior
desejo era poder trocar aquela vida enfadonha e triste, deixar aquela velha
cruz, por outra mais leve.
Até que um dia sonhou que estava em um
local onde havia muitas cruzes para escolha, de vários formatos, modelos e
tamanhos, então ela achou o máximo, sentiu-se realizada, pois afinal poderia livrar-se
da sua e troca-la por algo mais ao seu estilo...
Então começou sua busca: havia uma bem minúscula,
linda, cravejada de brilhantes, rubis, com entalhes em ouro e pedras preciosas,
toda ornamentada, magnífica. Seus olhos brilharam ao vê-la, imaginando que
aquela era a ideal, era exatamente a sua cara, sob medida para ela. “Puxa!!!
Esta sim, é cruz que se apresente, posso carrega-la facilmente”! E tomou-a logo
para si; mas seu corpo frágil e já debilitado, estremeceu e sucumbiu sob o peso
daquela cruz, não conseguiu tira-la do lugar; os ornamentos a tornou linda e maravilhosa,
mas infelizmente era peso demais para a mulher.
Seus olhos logo foram atraídos por outra
bonita cruz, não muito distante, com alegres flores coloridas entrelaçadas que
a ornamentavam tronco e braços – esta seria a cruz ideal, pensou – mais simples,
mais discreta, mais festiva, mais alegre e jovial, menos chamativa, “esta é que
deveria ser a minha cruz desde o princípio, isto sim”! Murmurou. Então, numa
expressão de alívio e realização a tomou; mas sob as flores lindas havia
espinhos, que lhe feriram os ombros e as costas.
Decepcionada prossegue em sua busca até que
finalmente, mais adiante, viu uma cruz muito simples, sem ornamentos ou
entalhes, sem flores, enfeites ou decorações, apenas com algumas inscrições de
palavras de amor. Pegou-a ainda não muito convicta, mas logo percebeu que de
todas era esta a mais fácil de remover, carregava-a facilmente como se moldasse
e pertencesse a sua própria anatomia. E enquanto a contemplava ainda admirada
pela facilidade e identificação com aquela cruz, os primeiros raios de sol
iluminaram aquele ambiente em que se encontrava, e ela pode ver estarrecida que
aquela era a sua própria cruz – ela a havia encontrado novamente, e descobriu
que era realmente a melhor de todas, e a que lhe era a ideal e a mais leve,
exatamente sob medida para ela.
Deus sabe mensurar o tamanho da nossa
força, a nossa disposição e vigor, sabe o que é melhor e ideal para cada um,
pois Ele nos criou e sabe o que investiu em cada um dos Seus.
Não podemos calcular
o peso da cruz dos outros – ao contemplarmos as pessoas ricas e confortáveis, prósperos,
suntuosos, ostentando toda sorte de bens e valores; logo pensamos que a sua
cruz é de ouro e pedras preciosas, cheias de ornamentos e sem nenhum
contratempo, pensamos que gostaríamos de tê-la para nós, ou pelo menos uma idêntica;
mas não podemos calcular nem precisar o peso que há por trás dela para removê-la
e rebocá-la.
E quando nos deparamos com pessoas lindas,
felizes, sempre alegres, joviais, festivas, imaginamos logo que a sua cruz deve
ser ornada de flores coloridas e perfumadas – mas não podemos nem imaginar os
espinhos que estão a ferir os ombros de quem a remove... Na verdade se pudéssemos
experimentar todas as outras cruzes disponíveis que julgamos melhores, mais
leves e adequadas do que a nossa, logo constataríamos que com nenhuma delas nos
identificaríamos como a nossa própria; nenhuma é tão certa, ideal e adequada
para nós, exatamente como a que temos no momento.
"Se alguém quiser acompanhar-me,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mateus 16.24).
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