terça-feira, 14 de março de 2017

Saldo da tristeza


A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração.

                          Eclesiastes 7.3

Quando a tristeza encontra-se submissa ao controle da graça divina, admiravelmente ela tem múltiplo ministério em nos – revela facetas ignoradas do nosso ser, expõe profundezas desconhecidas de nossa alma, descortina e aprimora capacidades, experiências, dons, talentos, serviços e utilidades que até então eram estranhos a nos.
Há muitos de nós que rotineiramente levamos uma vida fútil, como folha seca vagando, como rolha flutuando a mercê da maré; levianas, inconsequentes, sem vínculo nem raiz, sempre superficiais, descompromissados, desobrigados, que nem de leve calculamos a dimensão da mesquinhez em nossa própria natureza...
Então, o sofrimento é o arado divino, revolve as profundezas, retira as pedras, pedregulhos, escoras, residos do solo rochoso do interior da alma, nivela o solo, prepara e aduba a terra para produzir uma abundante colheita.
Em nosso mundo de natureza decaída, a escola do sofrimento, desprovida da revolta e do desespero; é a ferramenta preparada pelo SENHOR para expor-nos e revelar-nos a nos mesmos; nossa pequenez, dependência, falhas e limites, para que ninguém se ensoberbeça. É a função da dor que trás a introspecção, o pensar e o pesar profundo, o meditar longo e sobriamente, é o prumo de Deus nivelando, trabalhando, depurando nossa alma rebelde, vaidosa e altaneira, inflada de si...
Sim, o sofrimento nos conduz a um mover mais comedido, mais devagar, atentos para onde vamos pisar e o que vamos calcar, refletirmos com mais respeito e consideração ao próximo, leva-nos a ponderar e pesar nossas razões, reações, avaliações, escolhas, motivos e atitudes.
A bem da verdade, o sofrimento descortina aos nossos olhos as potencialidades do investimento de Deus em nossa vida espiritual, e só através dele, muitos de nós se dispõe a usar toda nossa capacitação para servir a Deus e ao próximo, do contrário permaneceríamos evitando a fadiga, deitados em berço esplêndido, contando carneirinhos, esperando os dias passarem...
Imaginemos um grupo de pessoas indolentes, sem iniciativa, vivendo na margem de grandes montanhas, sem nunca se aventurarem a explorar seus vales, reentrâncias, escalarem seus picos; satisfeitos com sua modesta e comedida vida rotineira... Até que surge uma violenta tempestade, que bate contra aquelas montanhas, rasga e expõe sua garganta e interior, põe a mostra as câmaras ocultas do vale. Os habitantes do sopé dos montes, maravilhados, passam então usufruir dos segredos inexplorados de uma região tão familiar e conhecida mas ao mesmo tempo estranha e magnífica. É bem assim que ocorre com alguns de nós, vivemos distraidamente na periferia de nossa própria natureza, indolentes e alheios a tudo, até sermos açoitados pelas grandes tempestades de sofrimento que nos desperta da letargia, vem revelar profundezas escondidas do nosso ser, que até então nem calculávamos possuir.
Nenhum de nós somos muito uteis a Deus, sem que antes sejamos moídos, quebrados; até conscientizarmos de que na verdade nada somos, dependemos Dele em tudo, se exteriorizamos algo de bom provem Dele... É o sofrimento que enobrece a alma.
José por exemplo, sofreu mais que seus outros irmãos, os demais filhos de Jacó – e este preparo lhe conferiu a nobre tarefa de fornecer suprimento a todas as nações de então. A esse respeito o Espírito Santo mencionou sobre ele:
"José é uma árvore frutífera, árvore frutífera à beira de uma fonte, cujos galhos passam por cima do muro.

...Que todas essas bênçãos repousem sobre a cabeça de José, sobre a fronte daquele que foi separado de entre os seus irmãos" (Gênesis 49.22,26).

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