Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu
amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões.
Salmos 51.1
O senso comum moderno adotou a mentalidade da
sociedade sem culpa, do “não sou eu o responsável”. Se fazemos algo errado,
buscamos alguém para atribuir o erro, desde que não sejamos nós: pode ser falha
dos pais, professores, educadores, sociedade, patrões, governantes ou Deus o
criador de tudo...
Nesse raciocínio imaginemos, depois da queda,
Adão passeando com os dois filhos, Caim e Abel, diante do portão do jardim do
Édem. Um dos filhos questiona: Que suntuoso condomínio é esse, meu Pai? E o
pai, magoado responde: Era para estarmos morando aqui, fomos expulsos, sua mãe
foi mexer onde não devia, comeu uma certa fruta, e deu nisso... Adão
simplesmente trataria de “limpar sua barra” e jogar a responsabilidade toda
para a “tal mulher que Deus lhe deu”, simples assim.
O Salmos 51 fala sobre o episódio em que o
profeta Natã confronta Davi com a história de seu delito com Bate-Seba (2
Samuel 12). “Rei Davi, a cordeirinha de um homem pobre foi roubada e assada por
um homem rico que estava dando uma festa. O que deve ser feito?” O rei
prontamente responde a pergunta do profeta: “Este homem deve morrer!” Natã olha
diretamente para o rei e diz: “Tu és o homem”!
O rei deve ter caído do trono, pigarreado,
ruborizado...as fontes de sua alma se romperam quando o remorso, a vergonha,
culpa, arrependimento foram liberados numa enxurrada de lágrimas. Ele se volta
para Deus, soluçando e diz: “Tem misericórdia de mim, ó Deus...porque conheço
as minhas transgressões” (Salmos 51.1,3).
Sem hesitar, ele assumiu toda a
responsabilidade, como rei dispunha de poder absoluto, estava acima do
julgamento do povo. Por que confessar? Não havia nenhum repórter para
confrontá-lo e perguntar: “é verdade que um funcionário seu arranjou-lhe um
encontro com Bate-Seba?” Ninguém mais sabia sobre aquilo. Davi assume suas
transgressões, iniquidade e pecado, prontamente, admite sua culpa sem mencionar
em momento algum a participação dela. Um homem moderno diria: Alto lá! Fui
tentando e seduzido, a culpa é dela; quem mandou-a tomar banho na sacada de seu
apartamento numa noite enluarada? Ela deveria ser mais recatada, ter colocado
pelo menos uma cortina, isso foi uma cilada!
Ou então: “Natã, seu puritano santarrão! Você
acha que não sou humano? Você acha que sou de ferro? Você está por fora da nova
moralidade, meu amigo!” Não, nada disso.
A confissão de Davi tem três aspectos,
abordagens diferentes do arrependimento.
“Minhas transgressões” refere-se a rebelião
aberta contra Deus, é praticar algo mesmo sabendo que é errado.
“Minha iniquidade” diz respeito ao engano de
Davi ao tentar acobertar, esconder, como se fosse possível, o seu pecado. Davi
assassinou Urias na tentativa de camuflar a gravidez de Bate-Seba. Como se
fosse possível ocultar algo dos olhos de Deus; cedo ou tarde Deus expõe todo o
erro, e isso é feito do alto do telhado, diante de todos.
“Meu pecado” refere-se ao assassinato de
Urias, rompendo assim seu relacionamento com Deus.
Davi diz: “Contra ti, contra ti somente
pequei” (Salmos 51.4). Para restaurar seu relacionamento com Deus, ele clama ao
SENHOR: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco
do que a neve” (Salmos 51.7). Hissopo é uma planta que foi usada para aspergir
o sangue do cordeiro nos umbrais das portas dos israelitas na noite da
instituição da Páscoa, no Egito. Após a aplicação do sangue, a casa estava
protegida do anjo da morte.
A Bíblia diz: “Em quem temos a redenção pelo
seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça” (Efésios
1.7). Sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados.
Davi, o talentoso músico desde infância, que
tocara para o rei Saul, promovendo alegria aos corações, não conseguia mais
apreciar a música pelo pesado fardo do pecado. O pecado não confesso havia
destruído suas canções, Ele implora a Deus: “Faze-me ouvir júbilo e alegria,
para que gozem os ossos que tu quebraste” (Salmos 51.8). O pecado o havia
consumido tal qual a dor de um osso quebrado, tamanha angústia ele sentia.
Após a confissão de Davi, Natã lhe disse que
Deus o perdoaria, mas que a espada não se afastaria da sua casa (2 Samuel
12.10). Davi sofreu tremendamente, profundamente em decorrência daquele pecado.
O primeiro filho que teve com Bate-Seba morreu logo após o nascimento. Sua
filha foi estuprada pelo próprio meio-irmão. Seu filho Absalão tornou-se um
rebelde que tentou destituí-lo e mata-lo.
Precisamos assumir a responsabilidade por
nossas escolhas e parar de dar desculpas esfarrapadas e tentar atribuir aos outros
nossas falhas. Nossa vida cabe a nós decidirmos, temos liberdade para optarmos.
Assim como Davi, precisamos aceitar nossos erros e confessar os nossos pecados,
Deus apressará em apagá-los, lançando-os no mar de esquecimento, pois:
"Se confessarmos os nossos pecados, ele
é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda
injustiça" (1 João 1.9).
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