sábado, 11 de agosto de 2018

Cânticos no crepitar das chamas


Grandes e maravilhosas são as tuas obras, SENHOR Deus todo-poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações.

                                         Apocalipse 15.3

O ocorrido incidente que segue é narrado pela Sra. Spurgeon, uma mulher que conheceu de perto o sofrimento por mais de vinte e cinco anos.
"Ao fim de um dia escuro e tristonho, estava eu deitada em meu divã, enquanto a noite descia; e embora ainda houvesse claridade em meu confortável e gostoso quarto, um pouco daquela nostálgica escuridão lá de fora começou como que a invadir e entrar em minha alma e de certa forma a obscurecer a minha visão espiritual.
Em vão eu procurava sentir e ver a mão que eu bem sabia estar segurando a minha e guiando meus pés, calçados em névoas, ao longo da íngreme e escorregadia vereda do sofrimento. Em tristeza, meu coração questionou:
- Por que será que meu SENHOR trata assim a um filho Seu? Por que será que por tantas vezes me envia esta dor tão aguda? Por que será que permite que esta fraqueza demorada impeça e impossibilita o serviço que eu tanto anseio prestar a Seus pobres e necessitados servos?
Não demorou muito para que estas ansiosas perguntas fossem rapidamente respondidas, e por meio de uma linguagem muito estranha; nenhum intérprete foi necessário, além do consciente segredar do meu coração.
Por um instante reinou absoluto silencio no pequenino aposento, interrompido apenas pelo crepitar do tronco de carvalho que ardia na lareira. De repente ouvi um som doce e suave, uma pequena e clara nota musical, como o leve trinar de um pássaro à minha janela.
- O que será? Sobressaltou o meu coração; por certo nenhum passarinho vai estar cantando lá fora nesta época do ano e principalmente a estas horas!
Novamente vem a fraca e lamentosa nota; tão doce, tão melodiosa, e contudo bastante misteriosa a ponto de despertar e provocar admiração. Minha amiga exclamou:
- Ouça! Vem da tora de carvalho no fogo!
O fogo simplesmente estava deixando livre a música aprisionada no âmago do carvalho.
Quem sabe se ele não tinha armazenado este canto nos dias em que tudo lhe ia bem, quando os passarinhos saltitavam alegremente  em seus galhos e o sol lhe dourava as tenras e verdes folhas?! Mas ele tinha envelhecido, desde então, e tinha-se endurecido; anel após anel de crescimento lhe havia marcado de nós o tronco e aprisionado e selado a esquecida melodia, até que as chamas vieram consumir sua dureza e despertá-lo da insensibilidade, e o ardor veemente do fogo arrancou dali um canto...
Ah! Pensei, quando o fogo da aflição tira de nós hinos de louvor, então estamos de fato verdadeiramente purificados, e o nosso bom Deus é glorificado!
Quem sabe se algum de nós encontra-se como esse velho carvalho – frio, duro, insensível; e não produziríamos sons melodiosos a não ser por meio do fogo da aflição e da dor, ardendo a nossa volta e libertando notas de confiança Nele e de alegre assentimento a Sua vontade?!
Enquanto eu refletia, o fogo crepitava lentamente, e minha alma achou conforto na parábola tão estranhamente revelada ao meu coração.
Cânticos nas chamas! Sim, com a ajuda de Deus, e se for a única maneira de tirar harmonia destes duros e insensíveis corações, seja a fornalha aquecida sete vezes mais"!
"Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra" (Lucas 1.38).
"Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua" (Lucas 22.42). 

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