Na angústia me deste largueza.
Salmos 4.1
Sem dúvida alguma, essa é uma profunda
constatação feita por alguém, sobre o governo moral divino – não se trata de
uma palavra de gratidão a Deus por ser poupado da angústia, do sofrimento –
pelo contrário, trata-se do reconhecimento e gratidão por ser liberto através
do sofrimento – pois afirma: "‘Na’ angústia me deste largueza". Sugere então,
que o sofrimento, a tristeza tornara-se em fonte de espaço, alargamento, uma
nova perspectiva na vida.
Todos nós, de algum modo, tomamos
conhecimento e experimentamos dessa verdade. José, por exemplo, na prisão teve
angústia que se compara ao ferro dilacerando a própria alma – entendemos no
entanto, que foi exatamente o período de amadurecimento que lhe era
indispensável para aquilo que o aguardava posteriormente. Se ele fosse poupado
do sofrimento e da prisão, não estaria preparado para tornar-se governador do
Egito – a cadeia de ferro que aprisionou e dilacerou seus pés, foi exatamente a
preparação para a cadeia de ouro que envolvera o seu pescoço, ao tornar-se governador
– a prisão para José foi a pavimentação da sua escalada até o trono.
Muitas vezes murmuramos, reclamamos, nos
entristecemos diante das circunstancias adversas que atravessamos; mas, se
queremos uma maior compreensão, amor, maior compaixão, discernimento, capacitação
em compartilhar a dor alheia, sentir e dividir auxiliando aos menos afortunados,
perdidos que cruzam nosso caminho; - precisamos antes de experimentar essa largueza,
sermos estreitados, experimentados na dor e no sofrimento humano – não seremos
capazes de conduzir ou transportar o pesado fardo de ferro que comprime o dorso
do nosso próximo, se nunca tivemos o próprio coração transpassado pelo mesmo
ferro.
Tudo o que entendemos como fator limitante
em nossas vidas, são na verdade oportunidades para alargar as perspectivas diante
de nos – não podemos murmurar dos pesados grilhões que nos acorrentam, pois na
verdade eles são asas que nos conduzirão para o âmago, o coração ferido da
humanidade.
Como entenderemos a dor que dilacera o próximo, sem que primeiro a
tenhamos vivenciado?
"Não temos um sumo sacerdote que não
possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou
por todo tipo de tentação, porém, sem pecado" (Hebreus 4.15).
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