O SENHOR não vê como o homem: o homem vê a
aparência, mas o SENHOR vê o coração.
1 Samuel 16.7
Conforme a instrução recebida, Samuel segue
o caminho para Belém, suas entranhas remexem, calafrio na espinha e os pensamentos
correm. É arriscado ungir um rei quando Israel já possui alguém no trono.
Contudo, é mais perigoso desacatar e desobedecer a Deus e viver sem um líder na
circunstancia que viviam.
Samuel entra na vila, arrastando um
novilho. Sua chegada atrai a atenção dos habitantes, raramente os profetas
visitam Belém. Viera ele para castigar alguém ou estaria se ocultando e fugindo
de algo? Nem uma coisa nem outra — assegura o profeta de ombros caídos, absorto
em suas próprias conjecturas. Alega sabiamente, que viera apenas para sacrificar
o animal para Deus, e convida os anciãos juntamente com Jessé e seus filhos a
se juntarem a ele.
A cena lembra um desfile de passarela.
Jessé exibe seus filhos um de cada vez, como cães de raça em coleiras. Samuel
examina-os de vários ângulos, observa-os detalhadamente e por mais de uma vez,
está pronto para dar-lhes a nota máxima; mas, em cada uma delas, Deus o impede.
Eliabe, o mais velho, parece a mais lógica
e acertada escolha. Imagine-o como o Galã da vila: cabelos ondulados, maxilar
proeminente, olhar penetrante, esbelto e forte, esbanjando saúde. Ele usa uma
calça jeans apertada, tênis de marca e tem um sorriso perfeito. Este é o cara,
sem dúvida alguma estou diante do rei, pensa Samuel.
"Errado", diz Deus.
Abinadabe entra como o segundo irmão e
forte concorrente. Acharíamos que ele era o próprio modelo da capa de uma
famosa revista masculina. Terno impecável de corte italiano, sapatos de couro
de crocodilo. Cabelo negro bem cortado e fixado para trás com gel,
barba delineada e aparada emoldurando o rosto. Pensem num rei estiloso!
Abinadabe preencheria com sobra esse perfil, mas...
O SENHOR não vê como o homem: o homem vê a
aparência, mas o SENHOR vê o coração (1 Samuel 16.7).
Deus não Se deixa influenciar com estilo,
então Samuel pede para que entre o terceiro irmão, Samá. Ele é estudioso,
intelectual, versátil, prático e aplicado, esbanja carisma, mas tem massa
cinzenta sobrando. Usa uns óculos que lhe dá um ar de superioridade e o torna
marcante e sóbrio; é formado pela Universidade Federal e está de olho em um
programa de pós-graduação no Egito, pretende se doutorar em ciências. Jessé sussurra
para Samuel: "Esse é meu orgulho, nunca reprovou na escola, líder da sua
turma, presidente do diretório acadêmico e orador oficial da Faculdade de
Belém".
Samuel fica tremendamente impressionado,
mas Deus não. Deus novamente alerta o sacerdote: "O SENHOR não vê como o
homem: o homem vê a aparência, mas o SENHOR vê o coração" (1 Samuel 16.7).
Sete filhos passaram, os sete fracassaram.
O desfile para. Samuel os conta mentalmente e indaga: — Jessé, você não tem
oito filhos?
Uma pergunta semelhante fez a madrasta de
Cinderela contorcer-se. Jessé provavelmente fez o mesmo ao ver detectada sua flagrante
injustiça paterna: "Ainda tenho o caçula, mas ele está cuidando das
ovelhas" (16.11).
O termo hebraico para "caçula" é
haqqaton e indica mais do que idade inferior; sugere posição. O haqqaton era
mais do que o irmão caçula; era o irmãozinho — o tampinha, o bebezinho.
Coube a ele então, cuidar das ovelhas da
família. Coloque o menino onde ele não venha causar problemas, nem prejuízos,
nem confusão, deixe-o lá no campo a céu aberto é mais seguro.
E é exatamente ali que encontramos Davi, no
pasto com o rebanho. Mas as Escrituras dedicam 66 capítulos à sua história,
deixando-o, em número de referências, atrás somente de Jesus. O Novo Testamento
menciona seu nome 59 vezes. Ele estabelecerá e habitará a cidade mais famosa do
mundo, Jerusalém. O Filho de Deus será chamado o Filho de Davi. Os maiores e
mais profundos salmos fluirão de sua pena. Iremos chamá-lo de rei, guerreiro,
menestrel e exterminador de gigantes.
Mas, naquele importante momento, ele nem
mesmo está incluído na reunião familiar; é simplesmente uma criança esquecida, desclassificada e descredenciada, realizando uma tarefa doméstica em uma cidade
que não passa de um ponto no mapa.
O que levou Deus a escolhê-lo? Precisamos
saber.
Afinal, andamos pelo mesmo pasto que andou
Davi, sim, o pasto da exclusão.
Estamos cansados do sistema superficial da
sociedade, de sermos classificados de acordo com a aparência exterior, os
centímetros de nossa cintura, os metros quadrados de nossa casa, a cor de nossa
pele, o modelo de nosso carro, a marca de nossas roupas, o tamanho de nosso
escritório, os diplomas conquistados, o modelo do celular, a ausência de rugas
e espinhas. Não estamos nós já cansados dessa ótica de valores mundanos?
O trabalho duro é ignorado, a devoção não
compensa é desperdício de tempo. O diretor prefere a segmentação ao caráter. O
professor escolhe alunos mimados em vez de alunos preparados. No esporte não se
destacam os melhores e sim os apadrinhados. Os pais exibem seus filhos
preferidos e deixam os nanicos lá fora no campo.
Estamos realmente cansados dessa mesmice,
dessa injustiça barata. Então é hora de pararmos de valorizar o que eles pensam
e valorizam. Pois o que importa verdadeiramente é o que o nosso Criador pensa:
"O SENHOR não vê como o homem: o homem
vê a aparência, mas o SENHOR vê o coração" (16.7).
E isto é o que conta!
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