segunda-feira, 18 de julho de 2016

Deus sonda o coração

O SENHOR não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o SENHOR vê o coração.

                                   1 Samuel 16.7

Conforme a instrução recebida, Samuel segue o caminho para Belém, suas entranhas remexem, calafrio na espinha e os pensamentos correm. É arriscado ungir um rei quando Israel já possui alguém no trono. Contudo, é mais perigoso desacatar e desobedecer a Deus e viver sem um líder na circunstancia que viviam.
Samuel entra na vila, arrastando um novilho. Sua chegada atrai a atenção dos habitantes, raramente os profetas visitam Belém. Viera ele para castigar alguém ou estaria se ocultando e fugindo de algo? Nem uma coisa nem outra — assegura o profeta de ombros caídos, absorto em suas próprias conjecturas. Alega sabiamente, que viera apenas para sacrificar o animal para Deus, e convida os anciãos juntamente com Jessé e seus filhos a se juntarem a ele.
A cena lembra um desfile de passarela. Jessé exibe seus filhos um de cada vez, como cães de raça em coleiras. Samuel examina-os de vários ângulos, observa-os detalhadamente e por mais de uma vez, está pronto para dar-lhes a nota máxima; mas, em cada uma delas, Deus o impede.
Eliabe, o mais velho, parece a mais lógica e acertada escolha. Imagine-o como o Galã da vila: cabelos ondulados, maxilar proeminente, olhar penetrante, esbelto e forte, esbanjando saúde. Ele usa uma calça jeans apertada, tênis de marca e tem um sorriso perfeito. Este é o cara, sem dúvida alguma estou diante do rei, pensa Samuel.
"Errado", diz Deus.
Abinadabe entra como o segundo irmão e forte concorrente. Acharíamos que ele era o próprio modelo da capa de uma famosa revista masculina. Terno impecável de corte italiano, sapatos de couro de crocodilo. Cabelo negro bem cortado e fixado para trás com gel, barba delineada e aparada emoldurando o rosto. Pensem num rei estiloso! Abinadabe preencheria com sobra esse perfil, mas...
O SENHOR não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o SENHOR vê o coração (1 Samuel 16.7).
Deus não Se deixa influenciar com estilo, então Samuel pede para que entre o terceiro irmão, Samá. Ele é estudioso, intelectual, versátil, prático e aplicado, esbanja carisma, mas tem massa cinzenta sobrando. Usa uns óculos que lhe dá um ar de superioridade e o torna marcante e sóbrio; é formado pela Universidade Federal e está de olho em um programa de pós-graduação no Egito, pretende se doutorar em ciências. Jessé sussurra para Samuel: "Esse é meu orgulho, nunca reprovou na escola, líder da sua turma, presidente do diretório acadêmico e orador oficial da Faculdade de Belém".
Samuel fica tremendamente impressionado, mas Deus não. Deus novamente alerta o sacerdote: "O SENHOR não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o SENHOR vê o coração" (1 Samuel 16.7).
Sete filhos passaram, os sete fracassaram. O desfile para. Samuel os conta mentalmente e indaga: — Jessé, você não tem oito filhos?
Uma pergunta semelhante fez a madrasta de Cinderela contorcer-se. Jessé provavelmente fez o mesmo ao ver detectada sua flagrante injustiça paterna: "Ainda tenho o caçula, mas ele está cuidando das ovelhas" (16.11).
O termo hebraico para "caçula" é haqqaton e indica mais do que idade inferior; sugere posição. O haqqaton era mais do que o irmão caçula; era o irmãozinho — o tampinha, o bebezinho.
Coube a ele então, cuidar das ovelhas da família. Coloque o menino onde ele não venha causar problemas, nem prejuízos, nem confusão, deixe-o lá no campo a céu aberto é mais seguro.
E é exatamente ali que encontramos Davi, no pasto com o rebanho. Mas as Escrituras dedicam 66 capítulos à sua história, deixando-o, em número de referências, atrás somente de Jesus. O Novo Testamento menciona seu nome 59 vezes. Ele estabelecerá e habitará a cidade mais famosa do mundo, Jerusalém. O Filho de Deus será chamado o Filho de Davi. Os maiores e mais profundos salmos fluirão de sua pena. Iremos chamá-lo de rei, guerreiro, menestrel e exterminador de gigantes.
Mas, naquele importante momento, ele nem mesmo está incluído na reunião familiar; é simplesmente uma criança esquecida, desclassificada e descredenciada, realizando uma tarefa doméstica em uma cidade que não passa de um ponto no mapa.
O que levou Deus a escolhê-lo? Precisamos saber.
Afinal, andamos pelo mesmo pasto que andou Davi, sim, o pasto da exclusão.
Estamos cansados do sistema superficial da sociedade, de sermos classificados de acordo com a aparência exterior, os centímetros de nossa cintura, os metros quadrados de nossa casa, a cor de nossa pele, o modelo de nosso carro, a marca de nossas roupas, o tamanho de nosso escritório, os diplomas conquistados, o modelo do celular, a ausência de rugas e espinhas. Não estamos nós já cansados dessa ótica de valores mundanos?
O trabalho duro é ignorado, a devoção não compensa é desperdício de tempo. O diretor prefere a segmentação ao caráter. O professor escolhe alunos mimados em vez de alunos preparados. No esporte não se destacam os melhores e sim os apadrinhados. Os pais exibem seus filhos preferidos e deixam os nanicos lá fora no campo.
Estamos realmente cansados dessa mesmice, dessa injustiça barata. Então é hora de pararmos de valorizar o que eles pensam e valorizam. Pois o que importa verdadeiramente é o que o nosso Criador pensa:
"O SENHOR não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o SENHOR vê o coração" (16.7).

E isto é o que conta!

Nenhum comentário:

Postar um comentário