domingo, 12 de fevereiro de 2017

A exclusividade da cruz


 Levando a sua própria cruz, ele saiu...

                                João 19.17

Uma antiga narrativa descreve uma mulher exausta e insatisfeita com a própria sorte, conta-se que ela vivia cansada e infeliz, reclamando, lastimando, murmurando pelos cantos, dizendo-se injustiçada, julgava carregar uma cruz mais pesada e sacrificante que os demais. Seu maior desejo era poder trocar aquela vida enfadonha e triste, deixar aquela velha cruz, por outra mais leve.
Até que um dia sonhou que estava em um local onde havia muitas cruzes para escolha, de vários formatos, modelos e tamanhos, então ela achou o máximo, sentiu-se realizada, pois afinal poderia livrar-se da sua e troca-la por algo mais ao seu estilo...
Então começou sua busca: havia uma bem minúscula, linda, cravejada de brilhantes, rubis, com entalhes em ouro e pedras preciosas, toda ornamentada, magnífica. Seus olhos brilharam ao vê-la, imaginando que aquela era a ideal, era exatamente a sua cara, sob medida para ela. “Puxa!!! Esta sim, é cruz que se apresente, posso carrega-la facilmente”! E tomou-a logo para si; mas seu corpo frágil e já debilitado, estremeceu e sucumbiu sob o peso daquela cruz, não conseguiu tira-la do lugar; os ornamentos a tornou linda e maravilhosa, mas infelizmente era peso demais para a mulher.
Seus olhos logo foram atraídos por outra bonita cruz, não muito distante, com alegres flores coloridas entrelaçadas que a ornamentavam tronco e braços – esta seria a cruz ideal, pensou – mais simples, mais discreta, mais festiva, mais alegre e jovial, menos chamativa, “esta é que deveria ser a minha cruz desde o princípio, isto sim”! Murmurou. Então, numa expressão de alívio e realização a tomou; mas sob as flores lindas havia espinhos, que lhe feriram os ombros e as costas.
Decepcionada prossegue em sua busca até que finalmente, mais adiante, viu uma cruz muito simples, sem ornamentos ou entalhes, sem flores, enfeites ou decorações, apenas com algumas inscrições de palavras de amor. Pegou-a ainda não muito convicta, mas logo percebeu que de todas era esta a mais fácil de remover, carregava-a facilmente como se moldasse e pertencesse a sua própria anatomia. E enquanto a contemplava ainda admirada pela facilidade e identificação com aquela cruz, os primeiros raios de sol iluminaram aquele ambiente em que se encontrava, e ela pode ver estarrecida que aquela era a sua própria cruz – ela a havia encontrado novamente, e descobriu que era realmente a melhor de todas, e a que lhe era a ideal e a mais leve, exatamente sob medida para ela.
Deus sabe mensurar o tamanho da nossa força, a nossa disposição e vigor, sabe o que é melhor e ideal para cada um, pois Ele nos criou e sabe o que investiu em cada um dos Seus. 
Não podemos calcular o peso da cruz dos outros – ao contemplarmos as pessoas ricas e confortáveis, prósperos, suntuosos, ostentando toda sorte de bens e valores; logo pensamos que a sua cruz é de ouro e pedras preciosas, cheias de ornamentos e sem nenhum contratempo, pensamos que gostaríamos de tê-la para nós, ou pelo menos uma idêntica; mas não podemos calcular nem precisar o peso que há por trás dela para removê-la e rebocá-la.
E quando nos deparamos com pessoas lindas, felizes, sempre alegres, joviais, festivas, imaginamos logo que a sua cruz deve ser ornada de flores coloridas e perfumadas – mas não podemos nem imaginar os espinhos que estão a ferir os ombros de quem a remove... Na verdade se pudéssemos experimentar todas as outras cruzes disponíveis que julgamos melhores, mais leves e adequadas do que a nossa, logo constataríamos que com nenhuma delas nos identificaríamos como a nossa própria; nenhuma é tão certa, ideal e adequada para nós, exatamente como a que temos no momento.

"Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mateus 16.24).

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